sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Verdades

Musas Calíope, Clio, Erato, Euterpe, Melpômene, Polímnia, Tália, Terpsícore e Urânia

      "Os artistas usam a mentira para revelar a verdade, enquanto os políticos usam a mentira para esconde-la." (V).

      Uma luta obsessiva pela verdade, os que não querem achá-la, desejam de toda forma negá-la, esses últimos, relativistas de plantão, que arrogando parecer pós-modernos, são somente mais uma tribo construindo deuses de barro com as próprias mãos. Mas o que é a verdade, uma equação que explica tudo, um número mágico guardado por iniciados de alguma ordem secreta milenar, ou apenas algo que dá a algumas pessoas controle sobre as outras? Os que dizem ter encontrado a verdade se satisfazem vendendo caro essa verdade, contudo sabem, no fundo de seus corações, que eles mesmos não gastariam um centavo com tal mercadoria, e aí se ergue uma das deusas mais adoradas do mundo, a hipocrisia.
      Outras pessoas serão enganadas sistematicamente por anos, algumas por todas as suas vidas, essas simplesmente não podem receber a verdade, não possuem humildade para entendê-la, então, o que fazem é trocar de algozes, quando se cansam de um, acham outro, e assim vai. Mesmo que pensem que estão tendo algum tipo de evolução, apenas substituem as mentiras, por outras de nomes diferentes, mas sempre enganos, não suportariam a verdade, não gostam dela, não têm coragem para enfrentá-la. A verdade é simples, mas se torna complicada para orgulhosos, é fácil, mas os que amam as trevas a complicam, e pagam altos preços por algo que é de graça.
      As pessoas querem uma verdade para se esconder nelas, se ajeitarem e dormirem em uma alcova majestosa, construída de madeiras nobres e revestida de ouro e pedras preciosas. Contudo, quando dormem, têm pesadelos terríveis, dores e terrores de quem está perdido e não sabe a verdade sobre si mesmo, acordam num dia sem sol. Engano de quem se esconde em mentiras reais e que na verdade nunca pagou o preço para saber a verdade que mais importa, que encontra aquele que mesmo repousando em um leito humilde, sonha que é rei e acorda em paz.
      Nas minhas verdades, sempre há um fundo de verdade. Seu eu for questionado à queima roupa sobre algo, serei tentando a ser verdadeiro, mesmo que revele uma parte de mim que muitos não entendem e talvez nem queiram saber, mesmo que revele uma parte dos outros que os outros não querem admitir. Contudo, se eu estiver relatando algo, minha emoção deixará as cores mais vivas, um rosa claro se torna vermelho sangue, o negro vira cinza prateado, nunca serei repórter ou historiador, sempre poeta, poeta mente.
      Sou movido à paixão, a mais doce das mentiras, ela, não o dinheiro ou as vaidades, move o mundo. Nenhuma grana desse planeta convencerá alguém a escalar o Tibete, nenhum risco, por mais danoso, impedirá uma pessoa de se apaixonar. Apaixonar-se é poetizar a vida, só o poeta se deixa cair, sem nenhum tipo de segurança, no mundo das mentiras, mentira de acreditar que alguém possa ser tudo pra ele, que uma pessoa é a mais linda do mundo, que tudo o que o objeto da paixão faz é perfeito, sincronizado com o universo. O poeta transforma uma mulher comum em musa, eleva seres terrestres que às vezes rastejaram anônimos por tanto tempo, ao Olimpo, transformando Marias e Anas em filhas de Mnemosine e Zeus.
      Por ser mentira em que o poeta acredita piamente, se torna verdade, a verdade mais real que podemos provar nesta vida. O que é a verdade senão algo crível por alguém? O poeta não precisa de provas, crê e pronto, todos nós somos poetas, mas pra isso é preciso a coragem dos mais insanos, a imaginação dos infantes, a liberdade dos mortos. Se paixão é uma mentira que o poeta transforma em verdade através da fé, uma fé que nasce de um prazer sem limites e sem razão, sim, nas minhas verdades, sempre há um fundo de verdade, a cartesiana, o resto é poesia, mentiras nas quais acredito por estar apaixonado por você...

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