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| 1. Corridor of Saint Paul Asylum |
do que não sabe falar, amputem a língua, do que não sabe olhar, furem os olhos, do que não sabe tocar, cortem as mãos, do que não sabe andar, decepem os pés, e do que não sabe amar, arranquem fora o coração, deixem intactos os ouvidos, para que as vozes falem e falem, resigne-se o medíocre a sua insignificância, o louco a sua prisão mental, o covarde ao seu castelo de areia e o vaidoso ao quarto de espelhos; tela "Corridor of Saint Paul Asylum" de Van Gogh onde foi internado em 1888 com o lobo da orelha amputado, dois anos antes do suicídio, os diagnósticos cogitados na época foram alcoolismo, psicose e epilepsia
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| 2. Van Gogh's Room in the Asylum |
quando o cuidado, de tão cuidadoso, emudece e se acovarda, é preciso ler nas entrelinhas e tomar a iniciativa, puxar o curativo de vez e sair correndo, despido da realidade; cicatrizes na alma, contudo, latejam para sempre, fingem estar fechadas para não serem tratadas, a distância não cura, nem diminui a dor, apenas protege da vergonha da loucura; se delírios são mais confortáveis que os vivos, morram os vivos, vistamos as alucinações laranjas claustrofóbicas, com janelas, mas sem portas, com longas tardes, mas de curtas noites; tela "Van Gogh's Room in the Asylum"
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| 3. A Noite Estrelada |
é triste como as pessoas podem ser desproporcionalmente injustas com a gente, contrariando opiniões dos que ajudamos e de outros que nos ajudam nos valorizando, mas vivamos com isso e sigamos em frente, tem outro jeito? se desistirmos estaremos satisfazendo os que tentam nos destruir com mentiras motivadas por inveja; só incomoda quem faz, quer viver em paz com todos? esconda-se e não faça nada; tela, uma das obras mais enigmáticas de Van Gogh, "A Noite Estrelada", pintada enquanto ele estava internado no hospital psiquiátrico, marco das pinceladas circulares que representam a luz
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| 4. Campo de Trigo com Corvos |
acabou? chore pelo morto, é seu direito, mas que isso tenha fim, afinal, o morto já está morto, se foi bom, guarde as memórias, senão, enterre-as com o morto, é só o final de uma fase, e o fim de uma é o início de outra que começará logo depois que você encerrar o luto, luto é rua que passa, não casa para se morar; morre um pedaço de nós a cada sepultamento que a vida impõe, depois de enterrar tantos defuntos, será que ainda temos forças para recomeçar? em determinado momento parece mais fácil empurrar o cadáver para o lado e nos ajeitarmos dentro do caixão, fingir-nos de mortos e ficarmos lá, quietinhos; tela, "Campo de Trigo com Corvos", concluída em julho de 1890, muitos acreditam que foi a última obra de Van Gogh, ou até mesmo que ele se matou durante a sua pintura
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| 5. Le semeur au soleil couchant |
semeia-se à luz do dia, mesmo que se comece ainda no alvorecer, para que se colha na noite da vida, quando a alegria se torna rara, a esperança, utópica, e a saúde, frágil, contudo, aquilo que é plantado à meia-noite, quando justos dormem, será colhido ao meio-dia, à vista de todos, um fruto amargo e letal para a vergonha de quem planejou males contra quem nenhum mal lhe fez; tela, "Le semeur au soleil couchant" (1888 - Van Gogh)
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| 6. Auto-retrato |
alguém disse, "considero esse sábio, mas não o adoro", contudo, todos adoramos algo que acaba sendo aquilo que nos tornamos; o que você adora? de verdade, mesmo que não admita? mire-se no espelho e olhe, esse é seu maior ídolo, mas veja além da carne, enfrente sua alma...; tela, auto-retrato de Van Gogh já com orelha decepada
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| 7. The Cafe Terrace on the Place du Forum, Arles, at Night |
aos que se apresentam sem legitimidade, deixemos teatros vazios, talvez sem plateia calem-se, ou não, já que seus egos bastam para se apresentarem e a si mesmos aplaudirem, nesse caso a psiquiatria explica; que subamos ao palco para apresentar arte, sentados fiquem os que têm inteligência para respeitar artistas; que não subamos, contudo, vazios, munidos apenas de argumentos para acariciar egos; "tocar-se" em público não é direito a prazer, mas violento atentado ao pudor, punido criminalmente, os que tomam palcos sem talento, deveriam ter mesmo fim, se são amadores, que façam em sua privacidade, tela, "The Cafe Terrace on the Place du Forum, Arles, at Night" (1888) por Vincent Van Gogh
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| 8. Starry Night Over the Rhone |
quem olha pra baixo quer dominar, vê os outros como menores e os próprios braços gigantes, controlando o mundo, como um deus, não enxerga ninguém acima, se acha dono da verdade e único capaz de fazer e deixar fazer; quem olha para cima quer aprender, vê os braços abertos para receber tanto os que estão no seu nível quanto os que estão acima, esse poderá até ver Deus; quem olha para cima pode subir, pois vê o caminho, quem olha para baixo estagna-se, pode descer, despencar no abismo, não terá outra opção; tela, "Starry Night Over the Rhone" (1888) por Van Gogh
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| 9. Retrato do Dr. Gachet |
para que servem amigos? para saberem do melhor que você é, quanto aos outros, que permaneçam desinformados, achando que porque não veem, não existe, eles não merecem nada de você, nem que você se incomode quando eles falam de coisas que não sabem; na imagem, "Retrato do Dr. Gachet", médico que tornou-se um dos mais íntimos amigos de Van Gogh, apaixonado por arte foi o único médico que aceitou os quadros do pintor como pagamento, Van Gogh escreveu: "O Dr. Gachet diz que sou excêntrico, mas quando olho-o vejo que luta contra um problema nervoso que certamente está a sofrer tão seriamente quanto eu. É a sua profissão de médico que o mantém, aparentemente, em equilíbrio"
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| 10. Auto-retrato e Fotografia |
quem somos? o que vemos, o que os outros veem, o que gostaríamos de ser, o que os outros querem que sejamos? é preciso paz de espírito para não sermos presos pela mentira, mas humildade para acatarmos verdades, é preciso tempo para que a verdade venha à tona, mas em um segundo se destrói com uma mentira, é preciso respeito para entender que todos têm direito à segunda chance, já que quando fechamos portas, afirmando que alguém nada tem de bom pra nos oferecer, condenamos nós mesmos à solidão; tela, auto-retrato e foto de Vincent Van Gogh (1853-1890)
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| 11. Retrato de Theo Van Gogh |
quem são nossos irmãos? muitos dizem ser os de sangue comum, outros gostam de chamar de irmãos os que compartilham espaços religiosos, que deixam de ser irmãos quando os espaços não são mais compartilhados; achei irmãos em gente tão diferente de mim, com outras filiações, mesmo espirituais, mas cúmplices, nos quais encontrei amor proativo, como se fossemos criaturas de um planeta distante, que falam a mesma língua, perdidos aqui nesse mundo repleto de falsos irmãos; tela, "Retrato de Theo Van Gogh", irmão de Vincent que colaborou para a popularização de artistas como Monet e Degas, os irmãos mantiveram troca intensiva de correspondências onde Theo encorajava seu irmão depressivo e Vincent revelava sua alma de artista
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| 12. Doze girassóis num vaso |
Vincent Van Gogh, esquizofrênico, bipolar, sei lá, que se matou aos 37 anos (há dúvidas sobre o suicídio), que conseguiu em vida trocar telas pelo trabalho de um médico que o ajudava, pouco mais que isso, mas que está hoje entre os pintores mais valorizados do mundo: a passagem desse ser humano por esse planeta sempre será algo que nos intriga, que nos motiva a pensar sobre a vida, sobre arte, sobre doenças psiquiátricas; uma das sete telas sobre o tema girassóis num vaso
Vincent Willem van Gogh frequentemente é considerado um dos maiores pintores de todos os tempos. Sua vida foi marcada por fracassos. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmo manter contactos sociais.
Centenas de médicos e psiquiatras tentaram definir as condições médicas e emocionais de Van Gogh ao longo dos anos. Van Gogh sofria de convulsões, provavelmente causada por epilepsia do lobo temporal. Tendo nascido com uma lesão cerebral, sua condição epiléptica foi agravada pelo seu uso prolongado de absinto. Dr. Gachet, um dos médicos de Van Gogh, tratou de sua epilepsia com digitálicos. Esta droga pode causar xantopsia, tendência para ver em amarelo ou ver manchas amarelas. Este pode ter sido uma das razões por que Van Gogh adorava esta cor.
Van Gogh, inicialmente como filho de pastor, manifestou extrema dedicação e entusiasmo pela religião e em seguida pela arte,pintura. Juntamente com um ritmo febril de sua produção artística muitos acreditam que a mania foi uma condição proeminente na sua vida. No entanto, estes episódios foram sempre seguidos por exaustão e depressão e, em última instância, levando ao suicídio. Portanto, um diagnóstico de transtorno bipolar ou manico-depressivo faz sentido quando estudamos o curso dos episódios afetivos ao longo da vida de Van Gogh.
Em reação a seus ataques de epilepsia, ansiedade e depressão, Van Gogh bebeu Absinto, uma bebida alcoólica tóxica e popular em muitos artistas da época. O consumo exagerado de absinto foi associado em quadros de alcoolismo crónico, acrescentando outros sintomas, como alucinações, paralisia e convulsões.Tuiona é a toxina em Absinto. Infelizmente, o Tuiona trabalhou contra Van Gogh agravando sua epilepsia e Depressão. Altas doses de Tuiona também podem desencadear tendência para ver objetos em amarelo.
Alguns acreditam que a enorme coleção de mais de 800 cartas Van Gogh escreveu durante sua vida poderiam ser atribuídas a hipergrafia. Hipergrafia é uma condição que provoca a necessidade de escrever de forma contínua; este transtorno é comumente associado à mania e epilepsia.
Porque Van Gogh utilizava tintas baseadas em chumbo, provavelmente também sofria de intoxicação por chumbo. Foi observado que, durante seus ataques Van Gogh tentou envenenar-se com tintas e querosene. Um dos sintomas de envenenamento por chumbo é inchaço das retinas que pode causar uma luz para ver como halos em círculos em torno de objetos. Isto pode ser visto em pinturas como The Starry Night.
Aos 37 anos, sucumbiu a doença mental, suicidando-se. Van Gogh é considerado pioneiro na ligação das tendências impressionistas com as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século XX, como por exemplo, o expressionismo, o fauvismo e o abstracionismo.
Resumo de comunicação na VI JORNADA CYRO MARTINS SOBRE SAÚDE MENTAL - Transtorno Mental e Capacidade Criativa - 08/08/2009 - Porto Alegre
* Psiquiatra. Professor Doutor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, FMRP da Universidade de São Paulo. Pesquisador e Lecturer of Section of Neurobiology of Mood Disorders. Institute of Psychiatry, Kings College - London.
Fonte: http://www.celpcyro.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&Itemid=0&id=648
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Van Gogh, saúde e doença mental: doença afetiva?
Francisco Mário Juruena *
Centenas de médicos e psiquiatras tentaram definir as condições médicas e emocionais de Van Gogh ao longo dos anos. Van Gogh sofria de convulsões, provavelmente causada por epilepsia do lobo temporal. Tendo nascido com uma lesão cerebral, sua condição epiléptica foi agravada pelo seu uso prolongado de absinto. Dr. Gachet, um dos médicos de Van Gogh, tratou de sua epilepsia com digitálicos. Esta droga pode causar xantopsia, tendência para ver em amarelo ou ver manchas amarelas. Este pode ter sido uma das razões por que Van Gogh adorava esta cor.
Van Gogh, inicialmente como filho de pastor, manifestou extrema dedicação e entusiasmo pela religião e em seguida pela arte,pintura. Juntamente com um ritmo febril de sua produção artística muitos acreditam que a mania foi uma condição proeminente na sua vida. No entanto, estes episódios foram sempre seguidos por exaustão e depressão e, em última instância, levando ao suicídio. Portanto, um diagnóstico de transtorno bipolar ou manico-depressivo faz sentido quando estudamos o curso dos episódios afetivos ao longo da vida de Van Gogh.
Em reação a seus ataques de epilepsia, ansiedade e depressão, Van Gogh bebeu Absinto, uma bebida alcoólica tóxica e popular em muitos artistas da época. O consumo exagerado de absinto foi associado em quadros de alcoolismo crónico, acrescentando outros sintomas, como alucinações, paralisia e convulsões.Tuiona é a toxina em Absinto. Infelizmente, o Tuiona trabalhou contra Van Gogh agravando sua epilepsia e Depressão. Altas doses de Tuiona também podem desencadear tendência para ver objetos em amarelo.
Alguns acreditam que a enorme coleção de mais de 800 cartas Van Gogh escreveu durante sua vida poderiam ser atribuídas a hipergrafia. Hipergrafia é uma condição que provoca a necessidade de escrever de forma contínua; este transtorno é comumente associado à mania e epilepsia.
Porque Van Gogh utilizava tintas baseadas em chumbo, provavelmente também sofria de intoxicação por chumbo. Foi observado que, durante seus ataques Van Gogh tentou envenenar-se com tintas e querosene. Um dos sintomas de envenenamento por chumbo é inchaço das retinas que pode causar uma luz para ver como halos em círculos em torno de objetos. Isto pode ser visto em pinturas como The Starry Night.
Aos 37 anos, sucumbiu a doença mental, suicidando-se. Van Gogh é considerado pioneiro na ligação das tendências impressionistas com as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século XX, como por exemplo, o expressionismo, o fauvismo e o abstracionismo.
Resumo de comunicação na VI JORNADA CYRO MARTINS SOBRE SAÚDE MENTAL - Transtorno Mental e Capacidade Criativa - 08/08/2009 - Porto Alegre
* Psiquiatra. Professor Doutor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, FMRP da Universidade de São Paulo. Pesquisador e Lecturer of Section of Neurobiology of Mood Disorders. Institute of Psychiatry, Kings College - London.
Fonte: http://www.celpcyro.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&Itemid=0&id=648
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